sábado, 30 de julho de 2011

Hérnia de disco: o drama da coluna



Cerca de 80% dos adultos sofrerão pelo menos uma crise aguda de dor nas costas durante a vida e, desses, 90% terão mais de um episódio, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). As causas são diversas, mas em grande parte ocorrem devido às alterações e desgastes dos discos intervertebrais, que permitem a flexibilidade da coluna e agem como amortecedores de impactos e lesões. Entre esses problemas está a hérnia de disco, que afeta 5,4 milhões de brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para explicar melhor esse problema e como evitá-lo, o Idmed convidou o fisioterapeuta e professor Frederico Meirelles para discorrer sobre o assunto. Veja a seguir.

O que é a hérnia de disco?

A hérnia de disco é uma lesão da coluna vertebral na qual o núcleo do disco intervertebral migra para fora do seu lugar de origem. Na maioria dos casos, essa migração é posterior, o que comprime estruturas ricamente inervadas, gerando dor e outros problemas, chegando a ser incapacitante em estágios avançados.

Quais são as causas?

Existem duas grandes causas:

A primeira causa é o trauma agudo. Menos comum, porém, não menos importante. O disco hernia pela intensidade do trauma. Nesses casos traumáticos não é raro vir associado a fraturas, lesões ligamentares, musculares, entre outras. Ex.: acidentes de carro, quedas importantes, exercícios malfeitos com grandes cargas, etc.

A segunda causa, e a mais comum, é lesão discal degenerativa. É justamente quando há degeneração na cartilagem que separa o disco do corpo vertebral – este é o local responsável pela nutrição do disco intervertebral. O disco com dificuldade de nutrição é um prato cheio para desenvolver problemas. Normalmente vemos, na Ressonância Nuclear Magnética, a imagem de um disco desidratado, além – é claro – da herniação discal. A desidratação discal, por si só, já é um sinal de alerta, pois indica que o local está com dificuldade de hidratação. Possivelmente estão acontecendo sobrecargas que fazem com que o disco não tenha tempo para se hidratar normalmente. Aí está o início do problema. Existem evidências de que fatores genéticos também podem contribuir para a lesão discal, ou seja, algumas pessoas têm uma probabilidade maior em desenvolver a doença.

Quais são os sintomas?

Dor na coluna, dor irradiada para qualquer região (normalmente membros inferiores e superiores), dores de cabeça, tonturas, alterações esfincterianas (perda de controle para urinar e defecar), alterações na marcha, fraquezas musculares, parestesias (formigamento), redução ou abolição de reflexos, depressão, insônia, câimbras, etc.

Como é feito o diagnóstico?

Avaliação médica:

Inicialmente o médico deve avaliar para ver a possibilidade de tratamento conservador, ou seja, sem necessidade de cirurgia, além de fazer um diagnóstico diferencial para excluir outros tipos de patologias que possam estar gerando esses sintomas.

É realizada pelo médico uma detalhada anamnese (entrevista realizada pelo profissional de saúde ao seu paciente), exame físico, exames complementares, testes ortopédicos, testes neurológicos, além do diagnóstico diferencial.

Avaliação fisioterapêutica:

Após verificar que é uma hérnia discal e que o tratamento conservador é possível, deve-se procurar um fisioterapeuta para conduzir um tratamento adequado.

É realizada pelo fisioterapeuta uma detalhada anamnese, exame físico, verificação de exames complementares, testes ortopédicos, testes neurológicos, diagnóstico diferencial, exame postural, relação hipomobilidades X hipermobilidades, discrepância de membros inferiores, testes musculares, testes provocativos, etc.

Quais são os danos que pode causar no organismo?

A hérnia discal, se não tratada, pode levar a danos irreversíveis, como paralisia de membros, alterações sensitivas, dificuldade ou perda da deambulação (ato de caminhar), alterações importantes dos esfíncteres, estenose medular, dores lacerantes, entre outros.

Há prevenção?

Sim, hoje em dia sabemos que o melhor tratamento é a prevenção. Ter hábitos de vida saudáveis, não fumar, dormir pelo menos 8 horas por dia, ter boa alimentação, realizar exercícios físicos com orientação de um profissional, procurar um fisioterapeuta para saber realizar corretamente as posturas diárias como levantar, sentar, deitar, segurar um peso, etc. E, é claro, ao primeiro sinal de dor nas costas, procurar um profissional para avaliar a situação. O corpo normalmente avisa, nós é que não percebemos.

Existe uma forma de tratamento?

Existe, sim. Hoje em dia, além da prevenção, a Osteopatia tem conseguido ótimos resultados na estabilização dos pacientes com hérnia discal. Fisioterapia, Terapia manual, Pilates, RPG, Estabilização Segmentar, Acupuntura, Quiropraxia, também ajudam. Porém em alguns casos a cirurgia é imprescindível. Pacientes sintomáticos devem procurar o tratamento rápido, antes que se torne um problema cirúrgico.

Que hábitos o portador desta doença deve ter para não ter a saúde prejudicada?

Chamamos de Higiene Postural. Devemos saber que simples movimentos incorretos, sendo realizados várias vezes ao dia, podem gerar microlesões. Muitas das vezes o paciente nos refere que sentiu uma fisgada quando foi abaixar para pegar algo no chão. Nesses casos, possivelmente, já existiam lesões no local e a ação de abaixar foi só o fator desencadeante da lesão. Devemos entender que o nosso corpo trabalha sempre na lei do menor esforço, que muitas das vezes pode ser maléfica para o organismo. Por exemplo: pessoas que trabalham sentadas o dia inteiro, o corpo tende a relaxar e sentamos de uma forma mais confortável. Essa forma pode ser lesiva a nossa coluna se permanecermos por muito tempo sentados. Devemos, então, procurar um fisioterapeuta para que nos oriente a postura adequada para cada situação.

Dr. Frederico Meirelles é pós-graduado em Traumato-Ortopedia e Osteopatia pela Escola de Osteopatia de Madrid. Atua como fisioterapeuta do Clube de Regatas Vasco da Gama - Departamento de Futebol Profissional e também é professor da Universidade Estácio de Sá.

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