domingo, 8 de maio de 2011

Lentes de contato: conheça as verdades e os mitos



Elas são usadas principalmente por quem não deseja usar óculos, mas também são populares entre aqueles que, por motivos estéticos, desejam mudar a cor dos olhos.

Muito se tem falado sobre lentes de contato nos últimos tempos e, de fato, elas têm sido de grande importância e praticidade, pois, além de corrigir problemas de visão como miopia, hipermetropia e astigmatismo, melhoram e muito a qualidade de vida dos usuários.

Em vários casos as lentes de contato melhoram a estética, permitem a prática de esportes e até possibilitam que o usuário exerça algumas atividades no trabalho que seriam mais difíceis com o uso de óculos. Mas seu uso deve ser muito bem indicado, e deve haver a orientação e acompanhamento do profissional capacitado para fazê-lo: o médico oftalmologista.

Para solucionar dúvidas, explicar o uso e desmitificar este acessório, o Idmed convidou a médica oftalmologista Cleusa Coral-Ghanem para falar sobre este tema.

Qualquer pessoa pode usar lentes de contato? Quais pessoas são mais indicadas para usar lentes de contato?

a) Quem quer usar:

Para quem quer começar a usar lentes de contato, o primeiro passo é procurar um oftalmologista e passar por diversos exames para avaliar a saúde dos olhos, além de determinar as medidas que irão ajudar na escolha do desenho, da curva e do grau da primeira lente de teste.

Algumas doenças oculares como infecções crônicas, olho seco e alergia severa podem limitar ou mesmo contraindicar o uso de lentes de contato.

Corretamente adaptadas, as lentes de contato podem, com segurança, substituir os óculos em casos de miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia (necessidade de óculos para perto após os 40 anos). Em muitos casos as lentes de contato proporcionam melhor visão do que os óculos. Por exemplo, um portador de alto grau de miopia sofre, com os óculos, redução de imagem em torno de 25%; com lentes de contato, a imagem fica do tamanho normal, permitindo enxergar mais nítido e mais longe. Além disso, amplia-se o campo visual porque, ao moverem-se com os olhos, as lentes de contato ficam livres das aberrações periféricas provocadas pelas lentes dos óculos. Também no astigmatismo o uso de lentes de contato, principalmente as rígidas gás-permeáveis, permite visão mais nítida do que os óculos.

b) Quem deve usar:

Muitos problemas oculares necessitam do uso de lentes de contato para recuperar a visão. Por exemplo, criança que nasce com catarata congênita deve ser operada nos dois primeiros meses de vida, e o cristalino, que nessa idade vale em torno de 25 graus, deve ser substituído por lentes de contato ou óculos (não é possível colocar implante porque o olho ainda vai crescer muito). Se a catarata for em apenas um dos olhos, é obrigatório o uso de lentes de contato. Para crianças de qualquer idade, portadoras de altos graus nos dois olhos ou com anisometropia (diferença entre os dois olhos superior a 3 graus), indica-se lente de contato com o objetivo de enviar uma imagem correta para o cérebro, a fim de que haja bom desenvolvimento visual, evitando-se a ambliopia (olho preguiçoso), causa potencial de cegueira.

A indicação médica mais frequente para o uso de lentes de contato é o ceratocone. Essa doença, que se desenvolve geralmente na adolescência, provoca protrusão da córnea (deixa-a pontuda), causando irregularidades que borram a visão. A lente de contato, principalmente a rígida gás-permeável, que não se amolda e substitui a superfície irregular da córnea por outra regular, restabelece a visão.

Além do ceratocone, todos os casos de distorção corneal, como os causados por cicatrizes, traumáticas ou pós-cirúrgicas, podem ter recuperação visual muito melhor com lentes de contato do que com óculos.

Lentes de contato terapêuticas podem ser utilizadas para aliviar a dor e como reservatório de medicamentos para auxiliar no tratamento de muitas doenças oculares.

Existem também as gelatinosas coloridas, pigmentadas e filtrantes, adaptadas para mudar a cor dos olhos ou com finalidade estética em cicatrizes aparentes ou desfiguração ocular.

c) Quem pode usar:

Apenas para substituir os óculos, por questões estéticas ou limitações esportivas, indicamos lentes a partir de 10 anos de idade, quando a criança já consegue manusear sozinha, embora sempre seja solicitada a supervisão da família.

Na verdade, quase todas as pessoas que necessitam de óculos e não gostam de usá-los podem substituí-los por lentes de contato.

d) Para quem o uso NÃO é recomendável:

As lentes de contato podem ser contraindicadas na presença de:

• doença sistêmica ou alérgica que afete o olho e possa piorar com o uso da lente;

• doenças importantes do filme lacrimal;

• inabilidade para o manuseio ou para seguir as orientações de conservação;

• pouca higiene ou baixa motivação;

• pacientes imunodeprimidos;

• infecções crônicas.


De quanto em quanto tempo é necessário visitar o oftalmologista?

A adaptação de lentes de contato é um processo dinâmico que só termina quando a pessoa abandona seu uso. Por isso, recomenda-se consulta oftalmológica a cada 6 meses para quem dorme com as lentes e anual para os que fazem uso diário. Muitos problemas oculares não apresentam sintomas na fase inicial, mas podem ser vistos e tratados precocemente pelo médico, evitando maiores complicações.

Quais são os principais cuidados que uma pessoa deve ter no uso de lentes de contato?

É fundamental adaptar as lentes de contato com um oftalmologista, o único profissional que entende de anatomia, fisiologia e patologia ocular. Com elas pode-se corrigir quase todos os tipos de grau com vantagens visuais. No entanto, para evitar complicações, os usuários devem respeitar o tempo de uso e troca das lentes, além de atentar para os cuidados de limpeza e desinfecção. Isso é feito com facilidade por meio de soluções multiuso; com uma única solução pode-se limpar, desinfetar e guardar as lentes. Soluções complementares são necessárias para algumas pessoas que apresentam alterações oculares, palpebrais, conjuntivais ou do filme lacrimal.

Quais são as principais considerações que uma pessoa deve ter para usar lentes de contato?

a) Dormir com LC aumenta o risco de complicações, por isso quem dorme com lentes deve passar por exame oftalmológico a cada 6 meses.

b) Mesmo uma lente bem adaptada pode causar irritação ocular devido ao meio ambiente ou se houver sensibilidade aos produtos químicos utilizados na manutenção. Tais soluções contêm preservativos que, em algumas pessoas, podem causar reação tóxica (manifesta-se nos primeiros minutos ou horas do uso da lente) ou reações alérgicas (após meses de uso da lente).

c) A gravidez pode alterar o uso confortável da lente.

d) Paciente em estado de inconsciência deve ter suas lentes removidas.

e) Todo usuário de lente de contato deve ter óculos, para usar em situações inesperadas (perda da lente, conjuntivites, irritações).

f) Receita de óculos não é sinônimo de receita de lente. Serve apenas como base para determinar o grau, que também pode variar de acordo com a curvatura da lente utilizada.

g) O uso de óculos escuros sobre as lentes de contato não é obrigatório, mas pode melhorar o conforto, principalmente no início da adaptação.

h) O uso de lente de contato em ambientes secos (ex.: aviões) deve ser evitado porque ocorre a desidratação da lente, com consequente desconforto. Se for necessário viajar com as lentes, deixar à mão um colírio lubrificante.

i) A anatomia do olho não permite que a lente se desloque para trás dele, mas ela pode permanecer escondida sob as pálpebras. Se isso ocorrer e não for possível removê-la, procure um oftalmologista.

Quais são os passos fundamentais para a manutenção das lentes de contato?

Limpeza do estojo

Deve ser feita, pelo menos, uma vez por semana, com água quente, sem sabão e com utensílio tipo escova de dentes. Deixar o estojo secar ao ar e, depois de seco, guardá-lo fechado. Recomenda-se utilizar estojo descartável ou trocá-lo, pelo menos, a cada 6 meses, para evitar o acúmulo de depósitos e bactérias. Estojo contaminado leva à contaminação da lente e do olho.

Higiene das mãos, olhos e anexos

Antes de tocar na lente de contato, recomenda-se lavar as mãos com sabonete neutro para remover restos de oleosidade, cremes, nicotina ou corpos estranhos que possam danificá-las. Devem ser evitados sabonetes com creme antisséptico, desodorante químico ou fragrância pesada porque pequenas porções dessas substâncias podem ser transferidas para o olho. Recomenda-se ainda secar as mãos em toalhas que não soltem fiapos e manter as unhas sempre aparadas e limpas.

É preciso também lembrar de remover as lentes antes de utilizar cremes de limpeza para a higiene das bordas palpebrais e cílios.

Limpeza da lente de contato

A limpeza deve ser feita sempre que a lente de contato for removida do olho, com solução limpadora que contém substâncias detergentes indicadas para remover oleosidades, mucosidades e cosméticos. Essas soluções não são efetivas para a remoção de proteínas. Para quem faz uso de lente de contato de troca anual e tem tendência à formação de depósitos, recomenda-se limpeza enzimática diária ou semanal, que age especificamente na remoção de proteínas do próprio filme lacrimal, que aderem na lente e podem provocar conjuntivite. Deve-se criar o hábito de iniciar o manuseio sempre pela mesma lente, para evitar a troca.

Enxágue

Indica-se para remover os depósitos soltos e a solução limpadora da superfície da lente. Com a lente na palma da mão, dirige-se um jato constante de solução, multiuso ou salina, fazendo-se leve fricção de trás para a frente. Recomenda-se um segundo enxágue, sem fricção. No caso de usar soro fisiológico, adquirir frascos pequenos para serem rapidamente descartados, diminuindo o risco de contaminação. De preferência, guardá-lo em geladeira depois de aberto. Nunca usar água de torneira, filtrada ou mineral.

Desinfecção

Após a limpeza e o enxágue, a lente deve ser submetida à desinfecção para eliminar os microrganismos patogênicos. Para isso, elas devem ficar imersas por 4 horas, no mínimo, em solução multiuso.

Neutralização

É necessária para os desinfetantes fortes como peróxido de hidrogênio, que podem irritar os olhos.

Lubrificação ou umedecimento

Antes da inserção e/ou durante o uso, a instilação de gotas lubrificantes torna as lentes mais confortáveis.

Em alguma circunstância o uso de lentes de contato pode prejudicar a visão?

O uso indevido das lentes pode ocasionar desde pequenas irritações oculares até problemas mais graves como as úlceras de córnea. Úlcera de córnea, que pode deixar sequela na visão, em usuário de lente rígida gás-permeável ocorre em torno de 1 caso para cada 10.000; para quem usa gelatinosa, mas remove todos os dias, 3 a 4 casos em cada 10.000; e entre os que usam gelatinosas e dormem com as lentes, 10 a 20 casos para cada 10.000. Esse número varia conforme a qualidade do material da lente e das condições ambientais e oculares.

Os usuários de lentes de contato devem seguir as recomendações de limpeza e desinfecção e respeitar o período de uso e troca das lentes. Existem diversos tipos de lentes e cada qual tem um tempo de descartabilidade. Desde 1999 estão disponíveis no Brasil as lentes de contato de silicone-hidrogel, que permitem fazer uso contínuo de 1 semana até 1 mês, quando devem ser descartadas. Nesses casos, é muito importante estar sob a supervisão do oftalmologista.

Problemas de inflamação e infecção geralmente ocorrem com pessoas que adquirem lentes descartáveis para um mês e as utilizam por 2 a 3 meses; além disso, também por economia, utilizam soro fisiológico para sua conservação.

O uso de lentes de contato para fins estéticos (mudar a cor dos olhos) pode prejudicar a visão?

A popularização das lentes ajudou a difundir a ideia de que sua adaptação não demanda cuidados, o que não é verdade. Lentes de contato cosméticas, com ou sem grau, devem ser adaptadas pelo oftalmologista, após o exame completo das condições do olho. Isso porque a lente fica em contato direto com o olho e dentro do corpo humano, durante o ato de piscar. Além disso, ainda não existe lente cosmética cujo material permite dormir com ela.

Durante o teste avalia-se a curvatura e o diâmetro – importantes para a centralização – a tonalidade, para que a pessoa possa conferir se combina com o seu tom de pele. A mesma lente pode apresentar diferentes tonalidades, dependendo da cor da íris de cada usuário.

Os cuidados com conservação, manuseio e tempo de troca devem ser feitos como qualquer outro tipo de lente de contato gelatinosa.


Quais as dúvidas mais frequentes relacionadas ao uso de lentes de contato?

  • Algumas lentes são melhores que outras?

Todas apresentam vantagens e desvantagens. Decida, com seu oftalmologista, qual o tipo que melhor se adaptará ao seu caso.

  • As lentes de contato podem prejudicar os olhos?

Devido ao contato com os olhos, o usuário deve ter o acompanhamento de um oftalmologista. Embora seu uso seja seguro em pessoas bem adaptadas e bem orientadas, algumas alterações oculares podem ocorrer. As infecções corneanas são complicações raras, mas temidas.

  • É possível usar maquilagem e cremes com lentes de contato?

Sim. As lentes de contato devem ser colocadas antes da maquilagem e removidas antes de retirar a maquilagem. Recomenda-se usar produtos hipoalérgicos, dar preferência a sombras e pó-facial compactos, não passar delineador ou lápis na parte interna da borda palpebral e realizar a troca de rímel a cada três meses (lavando o pincel com frequência).

Devem ser evitados rímel à prova d'água, excesso de creme na pálpebra superior, produtos oleosos nas bordas palpebrais, shampoos medicamentosos e produtos em aerossol.

Ao aplicar creme nas pálpebras, evitar tocar os cílios e, de preferência, depois de 20 minutos, tirar o excesso com lenço de papel. O creme pode penetrar nos olhos durante à noite e sujar o filme lacrimal, provocando turvação visual e ardência no dia seguinte.

Remover a lente de contato ao fazer peeling ou limpeza de pele, tinturas e permanentes.

  • É possível praticar natação, usando lentes de contato?

A preocupação de usar lente de contato durante a natação está no risco da infecção bacteriana, porque ambientes aquáticos estão mais propensos a contaminações. Entretanto, deve-se considerar que, para evitar acidentes pessoais e melhorar o desempenho no esporte, a boa visão a distância é fundamental.

No mar:

No mar ou em lagos abertos, a contaminação por produtos químicos e até esgotos pode existir, mas estudos mostraram que a contaminação das lentes de contato é muito baixa.

Para não perdê-las, recomenda-se fechar os olhos debaixo d’água e dar rápidas piscadas para remover a água dos olhos em vez de esfregá-los, pois as lentes ficam mais soltas quando em contato com água salgada.

Na piscina:

Em águas paradas, como piscinas, proliferam-se microrganismos que podem causar vários tipos de doenças, entre elas úlceras de córnea em usuários de lentes de contato. Para diminuir a contaminação da água utilizam-se algumas técnicas, nem sempre eficazes. Por isso, recomendam-se alguns cuidados especiais:

- usar óculos de proteção;

- limpar e desinfetar as lentes de contato após a natação;

- usar gotas lubrificantes antes de remover as lentes;

- ter dois pares de lentes para que o par usado na natação possa ser desinfetado;

- descartar a lente após o uso, se tiver tido contato com água poluída.

Dra. Cleusa Coral-Ghanem - CRM/SC 1234 - é doutora em Ciências (área de concentração Oftalmologia) pela USP e responsável pelo Departamento de Lentes de Contato do Hospital de Olhos Sadalla. É ex-presidente da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria (SOBLEC), membro do Conselho Consultivo e Representante Internacional da SOBLEC e diretora científica e coordenadora do “Programa de Educação Continuada à Distância” SOBLEC.

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