Com ajustes na alimentação, é possível driblar as crises
típicas desse problema que interfere no equilíbrio e na qualidade de vida de
uma porção de gente
por Thaís Manarini fotos Dercílio
De repente parece que os pés perdem o apoio
e o mundo gira, deixando o corpo desorientado no espaço. Não raro a tontura é
acompanhada de um zumbido chato, surdez, náuseas, vômito, suor frio e
palpitações. Para quem tem labirintite, como chamamos os distúrbios que
acometem o labirinto, uma estrutura dentro da orelha, esses sintomas são
familiares. E não é difícil entender por quê. Afinal, é nesse órgão que estão
localizados os responsáveis por reger nossos centros de equilíbrio e audição.
Logo, quando seu funcionamento é prejudicado, essas funções entram em pane,
resultando nos infortúnios descritos acima.
A história complica um pouco na hora de apontar suas causas. Afinal, a lista é
extensa: de doenças vasculares a disfunções hormonais, mais de 300 encrencas
podem afetar o labirinto. "Na maioria das vezes os problemas ali são a
campainha de alerta, e não o incêndio", avisa Arnaldo Guilherme,
otorrinolaringologista da Universidade Federal de São Paulo. Sendo assim, além
de investigar o motivo do fogaréu, faz-se necessário controlá-lo para livrar o
órgão de enrascadas. E, para isso, é bom ficar de olho em um fator pouco
comentado: a alimentação.
Nesse quesito, um dos principais inimigos do ouvido interno é o açúcar,
escondido não só em guloseimas como chocolate, sorvete e bolachas recheadas
como também em pães, tortas, bolos e massas feitos com farinha refinada.
"Quando o indivíduo tem alterações na maneira de processar os
carboidratos, ingerir muito açúcar pode interferir nas estruturas do labirinto,
fazendo com que ele mande mensagens erradas ao cérebro", conta o otorrino
Ítalo Medeiros, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para saborear uma sobremesa sem riscos, o jeito é apostar no consumo de frutas
como banana, abacaxi, maçã e pera. "Quem quiser um prato mais elaborado
pode levá-las ao forno com um pouco de canela", sugere a nutricionista
Roseli Rossi, da clínica Equilíbrio Nutricional, na capital paulista. E, no
momento de se entregar às massas, o ideal é optar pelas integrais, já que suas
fibras promovem uma absorção mais lenta da glicose.
O sal não fica atrás quando se fala nos perturbadores do labirinto, já que está
relacionado ao aumento da pressão nos vasos. "Isso dificulta a irrigação e
a chegada de nutrientes à parte interna da orelha", explica Guilherme. O
primeiro passo para brecar esse engarrafamento é trocar o condimento por
temperos naturais, como alecrim, cebolinha, sálvia e salsinha. Depois, é
preciso aprender a dizer não aos alimentos ricos no ingrediente, entre os quais
estão os salgadinhos, empanados, sopas prontas e lanches de fast food, e dar
preferência a opções mais saudáveis, como biscoitos com pouco sal e sanduíches
cheios de vegetais.
A lista de itens que merecem atenção no cardápio de quem tem episódios de
vertigem não para na dupla sal e açúcar. Segundo Rita de Cássia Guimarães,
otoneurologista da Universidade Federal do Paraná, é fundamental evitar o
consumo de alimentos que estimulem demais o labirinto, como a cafeína presente
no café e nos refrigerantes, especialmente naqueles à base de cola, e a teína
encontrada nos chás de plantas e ervas, sem contar o chimarrão.
Abdicar do cafezinho de uma hora para a outra não é tarefa fácil. Com isso, sua
versão descafeinada até pode ser uma alternativa, ainda assim apenas nos
períodos em que as crises estiverem controladas. Isso porque mesmo ela tem
doses menores de cafeína. "Durante o tratamento, é melhor cortar de vez a
substância", frisa Medeiros. Nesses momentos, a recomendação é investir em
chás de frutas. Já para ocupar o lugar dos refrigerantes, não tem conversa: a
água de coco e os sucos naturais são os melhores candidatos.
Na turma dos excitantes labirínticos, é impossível deixar de mencionar as
bebidas alcoólicas. "Elas podem causar uma intoxicação aguda e, assim,
favorecer o aumento na densidade dos líquidos labirínticos. O resultado disso
são vertigens agudas e intensas, vômitos e problemas na coordenação motora e
nos reflexos", explica Rita. Portanto, caro leitor que vez ou outra vê
tudo rodopiar, na próxima happy hour com o pessoal do escritório, uma ótima
pedida para driblar a zonzeira é tomar coquetéis e cerveja sem álcool em vez de
um chope ou uma caipirinha — o gosto não é o mesmo, mas pelo menos o copo não
fica vazio.
Vale deixar claro que os cuidados para se safar dos surtos de labirintite não
ficam restritos à avaliação cautelosa daquilo que vai à mesa. Cultivar outros
hábitos saudáveis é igualmente importante no combate às tonturas. Entre eles,
os especialistas destacam aquele que é quase um mantra: comer a cada três
horas. "O labirinto precisa de um aporte constante de glicose e oxigênio
para exercer suas funções. Ficar de jejum, portanto, não é uma boa ideia",
comenta a nutricionista Roseli Rossi. Outra indicação clássica que não deve ser
ignorada por quem tem o problema é hidratar- se com aproximadamente 2 litros de
água por dia. "Ela é essencial para todas as reações biológicas que
ocorrem no corpo", diz a nutricionista funcional e personal diet Luciana
Harfenist, do Rio de Janeiro.
Para completar, procure ficar longe do tabaco. O vício, como você já deve estar
cansado de ouvir, só tende a lesionar o organismo. E para quem sempre vê o
mundo girar a história é ainda pior: "Por causa da nicotina e de uma série
de outras substâncias, o cigarro mostra-se tóxico para o labirinto", conta
a otoneurologista Rita Guimarães. Enfim, zelar por esse órgão não só torna os
episódios de vertigem menos frequentes como também garante uma saúde de ferro.
Estrutura delicada
Segundo Rita de Cássia Guimarães, otoneurologista da Universidade Federal do
Paraná, o labirinto possui uma irrigação sanguínea peculiar, proveniente de um
único ramo arterial. Dessa forma, a nutrição inadequada das células presentes
na região podem facilitar o desenvolvimento de doenças labirintíticas.
Se o problema é sintoma
Na maioria das vezes o labirinto só entra em parafuso por causa de doenças já
instaladas no organismo. Conheça as principais e não dê bobeira
Hipertensão
O aperto nas artérias dificulta a chegada de sangue e nutrientes à orelha
interna. A consequência, em longo prazo, pode ser a labirintite.
Hipotireoidismo
Quando o ritmo de trabalho da glândula tireoide diminui, o organismo todo sofre
com a falta de energia. Inclusive o labirinto.
Colesterol e triglicérides elevados
Eles deixam o sangue mais espesso e, como os vasos próximos ao ouvido são
fininhos, a circulação na área fica congestionada.
Diabete
O sobe e desce de açúcar no sangue é capaz de atrapalhar as tarefas
desempenhadas pelo labirinto. Aí o sinal de alerta é a tontura.
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